Soneto da rua vazia

Vejo-te, agora, num relance, ó rua,

Por onde vivi quase inteira vida,

Vida feliz, mas ainda sofrida,

Entranhada na intimidade tua...

O recorte do tempo não atenua

A dor de não ver amigos na lida

E de mais não tê-los na merecida

Paz e ócio que a tristeza amua.

Conforta-me, ó rua, ora tão vazia,

Que guardes em ignotos escaninhos

De muitas gerações tanta magia,

Vistos na divina sabedoria,

Em cujos inescritos pergaminhos

Tudo, tudo, tudo se mostraria.