INVIDIA

Querer sempre e tudo foi meu vício primal

Dele vieram outros igualmente repugnantes e contumazes

Mas olhar o outro como quem poderia ser sempre foi pra mim natural...

Não mereço perdão pois sou da casta dos mais vorazes

Atinjo cumes por competição e vivo na rapidez de um desespero ortodoxo

Sou intrépido no subterrâneo e fugaz no despertar

Pois nunca tenho nada meu e o todo me possui no paradoxo

Tudo que vejo são vitrines e nelas meu eterno arfar

E em cada soluço vi sangue e em cada lágrima vi um rio

Que me conduziu a um oceano de foices em riste e rostos de decepção

Minha cobiça da grama alheia é um prato absolutamente amargo e frio

Nunca saciado, eternamente verde numa planície mercuriana atemporal

Tal qual o réptil rastejante... buscando o que não é meu e reservando ao que é as sombras

As mesmas que rasgam, afagam e ao fim me tornam colossal.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 27/01/2020
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