INVIDIA
Querer sempre e tudo foi meu vício primal
Dele vieram outros igualmente repugnantes e contumazes
Mas olhar o outro como quem poderia ser sempre foi pra mim natural...
Não mereço perdão pois sou da casta dos mais vorazes
Atinjo cumes por competição e vivo na rapidez de um desespero ortodoxo
Sou intrépido no subterrâneo e fugaz no despertar
Pois nunca tenho nada meu e o todo me possui no paradoxo
Tudo que vejo são vitrines e nelas meu eterno arfar
E em cada soluço vi sangue e em cada lágrima vi um rio
Que me conduziu a um oceano de foices em riste e rostos de decepção
Minha cobiça da grama alheia é um prato absolutamente amargo e frio
Nunca saciado, eternamente verde numa planície mercuriana atemporal
Tal qual o réptil rastejante... buscando o que não é meu e reservando ao que é as sombras
As mesmas que rasgam, afagam e ao fim me tornam colossal.