NÃO QUERO, MAS...
SONETO I
Não quero aqui, milagres, novo dia,
De alegrias, de tristezas, vejas:
Pois, não há cura em templos ou igrejas
Que nem sequer sutura à dor vazia...
Não quero aqui falar em fantasias
Pois, que a vida a realidade almeja,
Já que a mentira hoje mais fraqueja
E ainda força existe nas poesias...
Eu quero hoje a fala de quem luta
Nessas estradas onde a fome oculta
Justiça e paz, que do olhar reclama...
Eu quero ser qual sol, nem bom, nem mau
Qual mar que evapora e dá o sal
À terra... Quem tempera, espera e ama...
SONETO II
Queria ser resumo bem escrito,
Mas sei que sou apenas combatente
Nas plagas do meu ser intransigente
Que cala em mim, mas no papel dá o grito...
Eu trago meu poeta do proscrito
Da vida verdadeira e imanente
Ao ser que imortal, inteligente
Bem vive nas moradas do infinito...
Eu quero, mas não posso ser um santo
Pois, sou o diabo que só verto o pranto
Arrependido pela estrada afora...
Eu quero outra coisa ser enfim,
Mas trago o bem como desejo em mim
Por isso canto à luz de cada aurora...
Autor: André Luiz Pinheiro
25/01/2020