A hora
Senhora, este relógio na parede,
mentindo que esta noite inda é manhã,
semelha até meu coração no afã
de eternizar teu gosto em minha sede.
E, ali parado, deixa-me à mercê de
uma esperança ingênua pro amanhã:
de, quando houver no tempo outra hora irmã,
eu te rever dormida sobre a rede.
O frágil tempo passa, eclode o drama.
Os pinos sempre às sete; e se derrama
sobre meu triste olhar o dia inteiro.
Este contraste é lindo e dói, senhora...
Ver no relógio a perdurável hora
simbolizar amor tão passageiro.