O CACTO E O DESPREZO DO VENTO - (soneto estrambótico*)

 

Um cacto solidário implora ao vento,

trazer em seu alforge a chuva santa,

Por empatia àquela doce planta,

Que não suportaria um só momento

 

Sem saciar sua sede... E em detrimento,

a vida lhe extinguia... E ao que espanta,

O vento bem cruel, diz: - Não adianta,

Ceda você, do estoque; e já lamento,

 

Sua sobrevivência nesse solo,

Sombrio, empobrecido e sequioso...

... Se assim continuar ceder seu colo!

 

E o cacto respondeu, sabiamente:

- Serias bem mais útil, se amoroso.

Ao que ele retrucou: - És insolente!

 

Então, chegada a HORA:

A planta diz ao vento (em tom choroso:)

- Perdoo-te! Porém...Sê, mais caridoso.

 

 

P.S - *Estrambotes ou cauda:

 

- Uma estrofe a mais, de três versos.

- métrica: 6, 10, 10.

- rimas: dois últimos versos, com rimas iguais.

 

- Também podendo ser acrescido de um único

   verso ou dois.

 

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Duas belas interações do poeta LUIZ EDUARDO MARTINS DE OLIVEIRA. Grata!

 

O CACTO E A FLOR

 

Um cacto de dor numa flor de esperança

pouco foi a ela o sofrimento a lhe estuar,

porém, a flor havia tanto ao cacto a ofertar

que da flor guardou-lhe tenra lembrança.

 

O cacto ressumou com nova abastança

e ele estava sempre a se aperfeiçoar

até que amenizou a dor sem amuar

pela flor tornou-se trigo e aventurança.

 

A flor revelou-lhe seu nome, em sigilo,

ele, como a regá-la, com o seu novo estilo

sentiu a flor que o trigo encetou nova era.

 

Findou com a dor do cacto e com denodo

renasceram juntos a flor e o trigo, de modo

que jamais se desuniram da primavera.

 

//

 

MEU SERTÃO

 

Caminho a esmo sobre a gleba santa

com os pé rachados como sói no agreste,

rogando à chuva com a voz que me deste

não abrando a seca de minha garganta.

 

E dói minha voz quanto mais canto à vida

conformando a dor deste chão de espinho,

lavrando a terra e consumando o vinho

de meu sangue, em sede, com esta mão dolorida.

 

Debulho o quê, meu Deus, neste chão mirrado,

sem lenho verde, do povo farto de viver ilusão

de fome e sede, humilhado, assim, meu sertão?

 

Não debulho mais que um choro à sepultura,

um boi sem força... tanta dor e ninguém cura.

Mais que o destino, cruel é fazer o povo de gado!

Aila Brito
Enviado por Aila Brito em 15/01/2020
Reeditado em 26/02/2022
Código do texto: T6842487
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