LAMENTAÇÕES DE CÍCERO
Recai sobre mim o peso dos anos e o arrependimento doído
De não ter sido mais pra você do que esse homem estúpido
Tanto sofrimento e opressão nesses meus anseios de marido
Nunca perguntar se eras feliz, soprar eu te amo em teu ouvido
Como os anos se passaram sem que eu me apercebesse disso
E as humilhações continuaram sem que sequer pena eu sentisse
Não perceber todo o amor, suportar chorando, quieta, sem aviso
Tudo que eu despejava, o lixo do pior de mim, minha imundície
Deste-me o teu melhor enquanto sobre ti larguei ódio e pancada
Sobrou-me agora a casa vazia e a dor que nunca mais passará
És feliz de verdade agora, os teus dias serão plenos, és amada
Olho lá fora a paisagem, não há nada, só desolação, chão árido
Galhos de árvores distorcidos e secos, o desassossego da alma
No prato a sopa esfria enquanto eu deliro, o veneno agirá rápido