PINCÉIS DO TEMPO

O calendário dá suspiros derradeiros,

entranha-se no pó que abrasa nossas vidas,

levando a imensidão das horas carcomidas

às telas de um pintor, destroços de ponteiros.

Infindas pontes vão, quebradas nos roteiros

traçados pelos pés, enquanto são vencidas;

deixamos para trás declives e subidas

porque reside em nós o afã dos caminheiros.

Maneja seus pincéis, prepara galerias

o artista, tão voraz quanto esmerado e astuto,

no aguardo de inovar as cores luzidias.

Se o tempo vê painéis em torvelinho bruto,

se o leito de um jazigo acolhe tantos dias,

impávida, a esperança aflora e esmaga o luto.