Milagre
Milagre
Independência, mãe! Mata-me agora.
Agora, nem depois um só segundo.
Os pássaros lá fora choram o mundo,
assim como eu o choro e o tempo o chora.
Canções, graves poemas, luz e hora,
a voz de Jeová no azul profundo
- São para mim, boníssima senhora,
um pouco de viver, mas eu me afundo.
Não podem me matar a dor e o medo,
Nem há de me extinguir tímido enredo
de amores vãos e sonhos e mentiras.
Mas mãe, que esta lamúria se consagre:
Se tu me deste a vida por milagre,
por que é que por milagre não me a tiras?