IRA

Rasgo com os dentes e piso em traquéias por puro instinto

Meu rancor não precisa de motivo ou justificativa

Pois é anterior à ofensa e perene como o lobo mais faminto

Vejo sempre em rubro sob toda e qualquer perspectiva

Devoro as tênues chances de calmaria com a minha presença

Trago caos onde antes havia fluidez e serenidade

E depois de tudo a exaustão me devolve à letargia de nascença

Como um velho dragão há muito destituído da sanidade

Desaprendi os modos do convívio enquanto caminhei pelos rumos da estrada flamejante...

A pavimentada por Marte para os poucos, os impávidos e os desgraçados

Onde cego e demente gritei “Avante!”

Agora conduzo minha carruagem tracionada por cavalos furiosos e cadáveres como eu

Condenados ao expurgo cíclico infinito da matéria luminosa em chorume odioso

Na jornada destruidora cujo único destino é o breu.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 27/11/2019
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