IRA
Rasgo com os dentes e piso em traquéias por puro instinto
Meu rancor não precisa de motivo ou justificativa
Pois é anterior à ofensa e perene como o lobo mais faminto
Vejo sempre em rubro sob toda e qualquer perspectiva
Devoro as tênues chances de calmaria com a minha presença
Trago caos onde antes havia fluidez e serenidade
E depois de tudo a exaustão me devolve à letargia de nascença
Como um velho dragão há muito destituído da sanidade
Desaprendi os modos do convívio enquanto caminhei pelos rumos da estrada flamejante...
A pavimentada por Marte para os poucos, os impávidos e os desgraçados
Onde cego e demente gritei “Avante!”
Agora conduzo minha carruagem tracionada por cavalos furiosos e cadáveres como eu
Condenados ao expurgo cíclico infinito da matéria luminosa em chorume odioso
Na jornada destruidora cujo único destino é o breu.