INVENCIONICE

(Interação ao soneto PEREGRINO, do poeta

Piauiense Armengador de Versos)

Vou virar o teu verso de ponta cabeça,

Desdizer tudo que nele foi dito.

Isto pode ser um tanto esquisito,

Mas não se zangue e de mim não esqueça.

Se eu ando torto mesmo nas retas,

É para esconder as tais entrelinhas,

Que a gente inventa, cria e escrevinha,

E a verdade dos versos se completa.

Sou quase um santo, santificado,

Me criei nas águas, sou alagado,

Adoro este rio de águas turvas.

Aqui um camelo morre afogado,

Não é o deserto onde foi criado,

Nele eu nado e me esbaldo em suas curvas.

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PEREGRINO

Procurei reto andar mesmo por tortas linhas,

Ainda que a tropeçar nos toscos calcanhares,

Vejo ao meu derredor tantos frios olhares,

Procurando outras falhas entre as falhas minhas.

Costumo ser direto, não uso entrelinhas

Nas estreitas escritas dos meus andares,

Serei sempre fiel, honrando meus pares,

Nem sou de me afogar em velhas ladainhas.

Não sou santo, eu bem sei, tampouco quero sê-lo,

No abrasado deserto sou velho camelo

Na passagem d'agulha pra cumprir a meta.

Inumeráveis são as pedras no caminho,

Que por mais que eu tente, terei torvelinho,

Para que eu estrumbique mesmo em linha reta.

Piauiense Armengador de Versos

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 03/11/2019
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