HORAS MORTAS

Breve momento após comprido dia

De incômodos, de penas, de cansaço

Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,

Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta, à luz tardia

Do luar em cheio a clarear no espaço,

Vejo-te vir, ouço-te o leve passo

Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica

Mas é tão tarde! Rápido flutuas

Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo apenas fica

Sobre o papel — rastro das asas tuas,

Um verso, um pensamento, uma saudade

Alberto de Oliveira.
Enviado por Miguel Toledo em 28/10/2019
Reeditado em 28/10/2019
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