Soneto

Não sei quem sou, deitado em minha cama

Observo a procissão irrequieta

Que se contorce, lúbrica, abjeta,

Na cidade atolada pela lama.

Sim, muito amei, e agora ser quem ama

É coisa que já não mais me completa.

Gozo uma vida anônima, discreta,

Como um graveto ardendo em viva chama.

Estas aqui são cinzas distraídas,

Minhas poucas cinzas que o vento propaga,

E eu me acabo em lânguidas feridas

Que o tempo lentamente cura e apaga,

E só restam minhas fumaças perdidas

Formando no céu uma nuvem vaga...

Sarauvirtual
Enviado por Sarauvirtual em 26/10/2019
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