Soneto
Não sei quem sou, deitado em minha cama
Observo a procissão irrequieta
Que se contorce, lúbrica, abjeta,
Na cidade atolada pela lama.
Sim, muito amei, e agora ser quem ama
É coisa que já não mais me completa.
Gozo uma vida anônima, discreta,
Como um graveto ardendo em viva chama.
Estas aqui são cinzas distraídas,
Minhas poucas cinzas que o vento propaga,
E eu me acabo em lânguidas feridas
Que o tempo lentamente cura e apaga,
E só restam minhas fumaças perdidas
Formando no céu uma nuvem vaga...