Soneto Temporizado

Ó, não! não pode ser

Se pôde ser, certamente, já não é mais

Ora, se não é, não posso mais sê-lo

O que seria daqui para até as linhas finais?

Quem já é tão diferente de antes?

E guarda ainda consigo uma semelhança de sinais;

O passado e o futuro, teus presentes amantes

Traístes o agora por vossas questões banais

Ó, não! esse saudosismo de novo?

Que fizeste para merecer tal predileção?

De um tempo que segue o rastro do outro

O tempo não espera por ninguém nesta multidão

De existências infinitas e incompreensíveis

No emaranhado de minha interna profusão

Não há palavra que exprima a essência intangível

Que desponta em meio a minha confusão

Ó, não! lá vem a saudade

Das coisas efêmeras e que também passarão

Pelos corredores do tempo e de minha idade

Neste infindo mar de profunda imersão.