REMÉDIO OU VENENO
Surrado pela vida austera e dissonante,
um homem solitário andeja ao léu, perdido;
não vendo a servidão em que é demais contido,
mergulha na ilusão de achar-se o dominante.
Ceder-se ao devaneio é seu pendor constante,
embala a realidade em sonho divertido,
até consegue rir de insulto ressentido,
pois crê: feliz será o destino doravante.
Entrega-se passivo a alívios amorosos
dormindo num refúgio etéreo, bem cuidado
por guardiões do mel de orgasmo intenso e pleno.
Alou-se de esperança em véus de paz, piedosos
e se ascendeu. Depois morreu estatelado,
pensando ser remédio o mais letal veneno.