REMÉDIO OU VENENO

Surrado pela vida austera e dissonante,

um homem solitário andeja ao léu, perdido;

não vendo a servidão em que é demais contido,

mergulha na ilusão de achar-se o dominante.

Ceder-se ao devaneio é seu pendor constante,

embala a realidade em sonho divertido,

até consegue rir de insulto ressentido,

pois crê: feliz será o destino doravante.

Entrega-se passivo a alívios amorosos

dormindo num refúgio etéreo, bem cuidado

por guardiões do mel de orgasmo intenso e pleno.

Alou-se de esperança em véus de paz, piedosos

e se ascendeu. Depois morreu estatelado,

pensando ser remédio o mais letal veneno.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 19/09/2019
Reeditado em 19/09/2019
Código do texto: T6748862
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