Jabô
 
O tempo? desejei hoje assim fluido
Nas ondas e silêncio do jabô
O inverno pelas névoas, ressequido
Obrigou-me a guardar o meu tricô.
 
Quero o vento, rugindo no telhado
Brumas cinza ao longe pela serra
da primavera, o sonho ali talhado
meigo pela memória que desterra.
 
Ah! Memória, memória de menina
Abra-me suas portas bem depressa
Quero escrever poemas à surdina
 
A poesia quero-a em mim impressa
Quero todo o compasso de mi'a sina
Pois o tempo, ah, esse tempo não regressa
 

 
 

 
PS: “Jabô” na verdade é uma espécie de babado cortado em círculo no tecido e quando costurado nas roupas formam cascatas. Foi o que eu fiz nessa saia que estou vestido. Sim eu que fiz, pois depois de trinta anos inventei de voltar a fazer minhas próprias roupas. Antes eu costurava e quando inventei de trabalhar fora não deu mais. Agora que aposentei vivo inventando modas e está sendo muito bom pra mim, além de mais barato. Inclusive estou fazendo uns vestidos para esperar a primavera rsrs. Me aguardem. O título para o soneto, foi, na verdade uma vontade de deixar o tempo correr a vontade como o jabô em cascata e sem estresse, afinal não posso domá-lo. E depois de muito tempo quis fazer um soneto, mas confesso que gastei metade do dia. Inspiração ainda em baixa. Adoro soneto, mas acho bem difícil em razão da métrica. No fim  é bem capaz da métrica tirar a essência da poesia.  Mas vamos que vamos... Espero que gostem.