POSSEIRO

Não vês que o corpo quente que te abraça

pulsando membro, fibras, nervos, veias

primeiro te venera preso às teias,

pra só depois comer-te, farta caça?

É que antes necessito, em doses cheias,

cobrir com teu licor a espessa taça

de meus senões e após, a essência baça

inebriar do gozo que incendeias.

De cerne ornado em asas, enlevado,

mergulho então nas carnes, fendas, gruta,

faminto, devorando cada rastro.

Enfim, posseiro quase saciado,

num voo poderoso de águia astuta,

enlaço-me estandarte no teu mastro.