(com as mesmas consoantes)

Soneto

Vieste tarde, meu amor! Começa

Em mim caindo a neve devagar,

Morre o Sol, o outono cai depressa,

E o inverno, finalmente vai chegar;

E, se, hoje andamos juntos, na promessa

De caminharmos toda a vida a par,

Daqui a pouco, o teu amor tem pressa,

E o meu, daqui a pouco, há de cansar.

Dentro em breve, por traz das velhas portas,

Dando um ao outro, só palavras mortas,

Que rolam mudas, pelas nossas vidas,

Ouviremos, nas noites desoladas,

Tu, a canção das vozes desejadas,

Eu, o chorar das vozes esquecidas!

Nunes Claro

Ventura

Vem, minha flor, pois deste amor, começa

Em nós, a Primavera! E devagar,

Pôr-se-á o sol, a esquecer o que é ter pressa;

E um vento frio de Outono há de chegar

Para o Inverno a escrever que, se cansar,

Já ele não se admire [que é promessa

A uns zéfiros velada bem depressa

(Antes de vir, enfim, um novo par!)!]!

E quantos baterão por tantas portas,

Mas só a pronunciar palavras mortas,

Que, em breve, serão obras esquecidas?

Pois fulge o amor às noites desoladas,

E ainda longe, as bocas desejadas

Serão uma só como nossas vidas.