PESO
A vida pesa tanto sobre as costas,
que adentra pelos ombros, perfurando
artérias, coração e o corta em postas,
fervendo-o lentamente a fogo brando.
As perdas se acumulam dentro e fora:
saúde, amor de mãe, autonomia;
até tornou-se sangue o mel da amora;
o instante infinitiza-se à agonia.
É como se minasse à flor do todo
qualquer sinal, vestígio de sentido;
restou carcaça estéril, pétrea, dura.
Imerso em visgo, em víscera supura
o podre amargamente digerido
e mais um vão viver se enleia ao lodo.