Nada a declarar
NADA A DECLARAR
Quem se banha em meu degelo diário?
Quem ignora se me mato no Estácio?
Quem limpa as mãos com meu papel de otário?
Quem vai rascunhando meu epitáfio?
Se eu fosse rocha sólida e não neve,
se eu sambasse enquanto desço a ladeira,
se o que escrevo fosse suave e leve,
se eu sorrisse por cada brincadeira...
Com mise-en-scène testado e aprovado,
talvez, e só talvez, alguém chegasse
sem pára-raios, ficando ao meu lado.
Não! Não quero assim. Prefiro esperar.
Em poucos dias, estarei melhor.
Que cuide de mim o espelho do bar.
(Verônica Marzullo de Brito - 21/08/2019)
Pintura: Manet