A POESIA NÃO TEM PORQUÊ (Parafraseando Angelus Silesius – 1624/1677 -: “A rosa não tem porquê”.)
A poesia não tem porquê. Veio junto
com a vida e permanece nela entranhada
e pairando mais acima, até que, sem assunto,
um poeta acha a ponta de sua meada.
A poesia não quer se mostrar inteira.
Não é secreta, mas se resguarda em discrição.
Exala um perfume sentido, na primeira
inspiração, por quem cheira com o coração,
como faz o poeta. Ele pede licença
e pergunta: aonde a vida acontece? Cadê?
Tendo uma resposta, mitiga a diferença
que há entre a poesia da vida que se vê
e a que, pairando acima, perfeição dispensa.
Só não faz a pergunta proibida: por que?