Meu primeiro encontro com a viola
Meu primeiro encontro com a viola foi em mil novecentos e setenta e quatro quando eu conheci o poeta Juvenal Evangelista dos Santos que veio morar em Limoeiro do Norte e fazer um programa com Antonio Nunes de França na antiga rádio Vale. O poeta se tornou meu amigo e logo passei a cantar nos palcos das cantorias com ele e o seu parceiro Antonio Nunes. Antes de conhecer o vate paraibano eu já batia papo com João Liberalino e o grande repentista Eliseu Vantania cantadores potiguarinos que faziam um programa na rádio Rural de Mossoró e eu escutava quase todos os dias a grande dupla que tinha uma fama enorme. Em setenta e quatro eu estava no colégio Piamarta em Fortaleza, no entanto vim embora e deixei de lado a questão de estudo para assumir de vez a vida de repentista. A minha família não queria nem ouvir falar em cantador e muito menos eu virar cantador, coisa que não dava dinheiro e nem fama alguma. A partir de setenta e quatro a viola entrou na minha vida e eu passei a viajar com muitos cantadores mesmo enfrentando a rejeição da família e até do povo da minha terra. O nosso povo é ignorante e imediatista, só vê resultado no dinheiro e nada mais. Como cantador passei por muitos bocados ruins e tive que suportar para não se tornar pior. Nunca tive bossa para ser doutor, sobretudo malformado. Ainda muito menino, eu senti talento e passei a descobrir que eu tinha algo para a arte da palavra. No universo da viola, não ganhei dinheiro e nem fiz fama, entretanto fiz o que realmente eu gostaria de fazer: cantar repente para o povo. Trinta anos vi de perto o que a viola é para o cantador o que é ser repentista num meio inóspito, um ambiente de gente inculta e invejosa. Não voltarei mais à viola ainda assim a respeito pelo fato de eu ter vivido quase meio século cantando por todos os lares sertanejos.