Teu retrato
“Em frente do meu leito, em negro quadro,
A minha amante dorme. […]
Oh! Quantas vezes, ideal mimoso,
Não encheste minh’alma de ventura
Quando, louco, sedento e arquejante,
Meus tristes lábios imprimi ardentes
No poento vidro que te guarda o sono!”
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Se todos os parcos bens que hei acumulado
Me fossem tomados, não os lamentaria
Se o único que, por dó, me restaria
Fosse teu retrato, em meu quarto pendurado.
Estás sempre tão fielmente a meu lado,
Ó Anastasia! Teu semblante é que me guia
Pelas trevas de minha vida, noite e dia,
Pois és meu anjo guardião tão adorado!
Quantas vezes, com a angústia a me roer,
Não o levei aos lábios para o beijar
Reverentemente, convulso a tremer!
Quem me dera ser capaz de arrebentar
O vítreo invólucro a te proteger,
E de amores em teu seio suspirar!