SONETO DA AUSENTE
É impossível que na furtiva claridade
que te visita sem estrela nem lua,
não percebas o reflexo da lâmpada
com que te procuro pelas ruas da noite.
É impossível que, quando choras, não vejas
que uma de tuas lágrimas é minha.
É impossível que, com o teu corpo de água jovem,
não adivinhes toda a minha sede.
É impossível não sintas que a rosa
desfolhada a teus pés, ainda há um minuto,
foi jogada por mim, com a mão do vento.
É impossível não saibas que o pássaro,
caído em teu quarto por um vão da janela,
era um recado do meu pensamento!
Cassiano Ricardo
SONETO DA AUSENTE
Sim é possível eu vejo
O luar que num lampejo
Na janela surge a noite
É a luz que com seu açoite
Torna a rua mais clara
Onde sinto a sua presença
Das lágrimas já seca, a esperança
A certeza que traz o perfume da rosa
Aqui espalhada em meu quarto
Um sinal que traz voce para perto
Sinto o aroma de forma maravilhosa
É possível que venha matar a sede
NesteS versos que do seu pensamento
Trouxe-me no bater das asas do pássaro
E veio até mim num suave vento.
Angelica Gouvea