NOIVADO
NOIVADO
Augusto dos Anjos
Os namorados ternos suspiravam,
Quando há de ser o venturoso dia!?!
Quando há de ser?! O noivo então dizia
E a noiva e ambos d'amores s'embriagavam.
E a mesma frase, o noivo repetia;
Fora no campo pássaros trinavam,
Quando há de ser?! e os pássaros falavam;
Há de chegar, a brisa respondia.
Vinha rompendo a aurora majestosa,
Dos rouxinóis ao sonoroso harpejo
E a luz do sol vibrava esplendorosa.
Chegara enfim o dia desejado,
Ambos unidos, soluçara um beijo,
Era o supremo beijo de noivado!
É difícil dizer quem na juventude não se encantou com a poesia de Augusto dos Anjos. Aos 26 anos, recém-casado, o poeta deixou a terra natal, na Paraíba. No Rio de Janeiro, esperava encontrar oportunidades mais compatíveis com a sua cultura e com o talento que possuía.
No Rio de Janeiro, no entanto, a vida não foi fácil para sobreviver com a família, como professor e com a poesia ignorada pela crítica da época. Anos mais tarde, conseguiu uma vaga de diretor numa escola da cidade de Leopoldina (MG), pertinho de Juiz de Fora, onde veio a falecer de tuberculose, quatro meses depois, com apenas 30 anos.
Em junho de 2011 viajei de Belo Horizonte até a cidade de Leopoldina somente para visitar o túmulo do poeta. Ele, que é na atualidade um dos mais reconhecidos e admirados dos poetas brasileiros e, por certo, o mais original. Uma pena que Augusto não viveu o bastante para curtir e colher os louros pelo reconhecimento de sua escrita. Foi por gostar tanto que sei de cor vários de seus sonetos, dentre eles, este da postagem acima.
Onofre Ferreira do Prado