O novo Ahasverus
“Não amou-me ninguém! Deixaram que
Mirrasse uma existência em sonhos gasta!
Não amou-me ninguém! Nem veio quem
Às minhas mágoas soluçasse: ‘Basta!’”
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Qual o Errante Judeu das fábulas passei
Pelo globo terrestre; só e despercebido,
Esperando que por alguém fosse ouvido,
Em vão meus cantos mais plangentes declamei.
O amparo da amizade nunca encontrei:
Por quem devotei meu amor fui escarnecido.
Se amanhã pela morte fosse surpreendido,
Certo estou que nênia alguma receberei!
A única que saudades minhas sentiria
A ponto de algumas lágrimas derramar
Seria a fiel balconista da livraria...
(E mesmo dela não posso me vangloriar;
Tal como Sganarelle, talvez mais choraria
Pelo dinheiro que não mais poderei dar!)