O novo Ahasverus

“Não amou-me ninguém! Deixaram que

Mirrasse uma existência em sonhos gasta!

Não amou-me ninguém! Nem veio quem

Às minhas mágoas soluçasse: ‘Basta!’”

(ÁLVARES DE AZEVEDO)

Qual o Errante Judeu das fábulas passei

Pelo globo terrestre; só e despercebido,

Esperando que por alguém fosse ouvido,

Em vão meus cantos mais plangentes declamei.

O amparo da amizade nunca encontrei:

Por quem devotei meu amor fui escarnecido.

Se amanhã pela morte fosse surpreendido,

Certo estou que nênia alguma receberei!

A única que saudades minhas sentiria

A ponto de algumas lágrimas derramar

Seria a fiel balconista da livraria...

(E mesmo dela não posso me vangloriar;

Tal como Sganarelle, talvez mais choraria

Pelo dinheiro que não mais poderei dar!)

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 02/05/2019
Reeditado em 11/02/2021
Código do texto: T6637299
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.