UMA ESTÁTUA
Durasse menos, mal seria humana
E dura, entanto, as chamas doutro abril,
Tão plena de si mesma, louca e urbana --
Em seus umbrais, desdenha a dor e o frio.
A verve é presa dessa noite na alma --
Afirma trevas sobre a paz alheia,
É brado que se quer suspiro e calma
Sob céus de estrelas más e lua cheia.
Estanca o tempo em cada sonho morto
Que encerra em si, resquício de quem foi,
Reflexo dando em troca um rosto torto
Por trinca que não chora e que não dói.
Se as mãos esboçam sombras num protesto
Inútil, tudo em volta ignora o gesto.
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