OUTONANDO
Se a flor de abril cantasse do que sente
Ornando tais silêncios já sem cura,
Calando até suspiros, de repente,
À margem de cuidados, de ternura...
Se a fuga houvesse, em pétala insolente,
Exalado sem pejo a queixa impura,
O dia avesso a preces, simplesmente
Seria o mensageiro da loucura.
Pois tudo quanto cala em si confina
O inventário das dores soberanas
Se amar não basta e a ausência contamina.
Em gesto pesaroso o dia apanha
O adeus que não se adapta a mãos humanas,
Oh, flor de abril, monarca a mais tacanha.
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