Soneto
Onofre Ferreira do Prado
É difícil dizer quem na juventude não se encantou com a poesia de Augusto dos Anjos. Aos 26 anos, recém-casado, o poeta deixou a terra natal, na Paraíba. No Rio de Janeiro, esperava encontrar oportunidades mais compatíveis com a sua cultura e com o talento que possuía. No Rio de Janeiro, no entanto, a vida não foi fácil para sobreviver com a família, como professor e com a poesia ignorada pela crítica da época. Anos mais tarde, conseguiu uma vaga de diretor numa escola da cidade de Leopoldina (MG), pertinho de Juiz de Fora, onde veio a falecer de tuberculose quatro meses depois, com apenas 30 anos.
Em junho de 2011 viajei de Belo Horizonte até a cidade de Leopoldina somente para visitar o túmulo do poeta. Ele, que é na atualidade um dos mais reconhecidos e admirados dos poetas brasileiros e, por certo, o mais original. Uma pena que o poeta não viveu o bastante para curtir e colher os louros pelo reconhecimento de sua escrita. Foi por gostar tanto que sei de cor vários de seus sonetos, dentre eles, este que vai abaixo:
SONETO
Ao meu prezado irmão Alexandre Júnior pelas nove primaveras que hoje completou.
Canta no espaço a passada e canta
Dentro do peito o coração contente,
Tu' alma ri-se descuidosamente,
Minh'alma alegre no teu rir-s'encanta.
Irmão querido, bom Papá consente
Que neste dia de ventura tanta
Vá, num abraço de ternura santa,
Mostrar-te o afeto que meu sente.
Somente assim festejarei teus anos;
Enquanto outros que podem, dão-te enganos,
Jóias, bonecos de formoso busto,
Eu só encontro no primor de rima
A justa oferta, a jóia que te exprima
O amor fraterno do teu mano Augusto.