ESPELHOS

Um elo com meu ser no argênteo espelho,

Tentando certo dia por mirá-lo,

Chorei por ver qual um palor semelho,

Meu rosto triste trouxe neste embalo.

Notei por traços fortes ser mais velho

Ao receber da infância o triste halo.

Despi de portes diante desse espelho...

Julgou-me o ser, e então, pus a julgá-lo.

Não pude conhecer o ser que via.

O ser, que me arrastou por longos anos.

Os olhos ler não pude, todavia,

Tão perto de má sorte e desenganos,

Os vi chegar à beira em densa via,

Visando a morte, espelho envolto em panos.

Antônio Daniel do Carmo

Campinas 1990

Antônio Daniel do Carmo (MENALCAS)
Enviado por Antônio Daniel do Carmo (MENALCAS) em 11/03/2019
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