ESPELHOS
Um elo com meu ser no argênteo espelho,
Tentando certo dia por mirá-lo,
Chorei por ver qual um palor semelho,
Meu rosto triste trouxe neste embalo.
Notei por traços fortes ser mais velho
Ao receber da infância o triste halo.
Despi de portes diante desse espelho...
Julgou-me o ser, e então, pus a julgá-lo.
Não pude conhecer o ser que via.
O ser, que me arrastou por longos anos.
Os olhos ler não pude, todavia,
Tão perto de má sorte e desenganos,
Os vi chegar à beira em densa via,
Visando a morte, espelho envolto em panos.
Antônio Daniel do Carmo
Campinas 1990