O Corvo de Poe

I

Eu estava no meu recanto quando

Na janela vi algo em movimento,

Aproximei-me sobre passos lentos.

Vinha lá um corvo se aproximando.

Falei: - Se eu não tivesse sofrimento,

Estivesse sorrindo, não chorando,

Eu poria pra voar até um bando.

Mas não hoje, fica mais um momento.

Eu tenho um grande amor e não o vejo,

Ao menos por um dia, é o meu desejo...

Diga quando o verei, traga-me paz. –

E o corvo com um lúgubre olhar,

E apenas ao vê-lo, desabei a chorar,

Completou sussurrando: - Nunca mais! -

II

Eu estava no meu recanto quando

Na janela vi algo em movimento,

Já sabendo que era o corvo, eu sento,

Aceno, sorrio, o fico contemplando.

- Nunca mais-, diz-me, e, nesse momento,

Fito-o e de ímpeto vou falando:

- Vá, retorna, traga todo teu bando

Que eu ponho pra voar sem um lamento.

Pois eu já não sou mais quem antes era.

O nunca mais que dizes, já dissera,

E só me soa como nostalgia.

Vá aniquilar outra criatura!

Sou impassível como a noite escura,

Já não amo quem tanto amei um dia. -

Anne Negreiros
Enviado por Anne Negreiros em 26/02/2019
Reeditado em 12/04/2021
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