O Corvo de Poe
I
Eu estava no meu recanto quando
Na janela vi algo em movimento,
Aproximei-me sobre passos lentos.
Vinha lá um corvo se aproximando.
Falei: - Se eu não tivesse sofrimento,
Estivesse sorrindo, não chorando,
Eu poria pra voar até um bando.
Mas não hoje, fica mais um momento.
Eu tenho um grande amor e não o vejo,
Ao menos por um dia, é o meu desejo...
Diga quando o verei, traga-me paz. –
E o corvo com um lúgubre olhar,
E apenas ao vê-lo, desabei a chorar,
Completou sussurrando: - Nunca mais! -
II
Eu estava no meu recanto quando
Na janela vi algo em movimento,
Já sabendo que era o corvo, eu sento,
Aceno, sorrio, o fico contemplando.
- Nunca mais-, diz-me, e, nesse momento,
Fito-o e de ímpeto vou falando:
- Vá, retorna, traga todo teu bando
Que eu ponho pra voar sem um lamento.
Pois eu já não sou mais quem antes era.
O nunca mais que dizes, já dissera,
E só me soa como nostalgia.
Vá aniquilar outra criatura!
Sou impassível como a noite escura,
Já não amo quem tanto amei um dia. -