Ave presa no ninho
I
Posso o mundo eu conquistar daqui,
Vendo estrelas d’um ninho seguro?
Há uma luz no céu a me iludir,
Faze-me crer na glória do futuro.
Mas cá estou, já velha, já vivi
Sem mesmo voar e sair do escuro.
Nada conquistei, nada conheci.
Segurança vã, mas no peito um furo.
Falta-me coragem pra subir ao céu.
Falta-me entrega pra provar do mel.
Talvez, provável, falta-me razão.
Pois não aceito o ninho que habito.
Quero sempre mais, mas sempre hesito.
Quero voar, mas sem sair do chão.
II
Pude o mundo eu conquistar daqui
Sem ir às estrelas, sem ver tal mundo.
A luz do céu é só pra iludir
Aquele sem brilho de si oriundo.
Estou velha, sim, mas revivi.
Passei eu por sofrimento profundo.
A dor conquistei, amadureci.
Eu me tornei solo de amor fecundo.
Faltou compaixão pra querer o céu.
Faltou-me altruísmo pra ansiar o mel.
Talvez, provável, faltou-me emoção.
Não reconheci o ninho que eu morava.
Eu quis mais, e com isso eu renegava
Quem me dava por total o coração.