SONETO AGRILHOADO
«Dolente angústia»
Maria João – distinta artífice de Sonetos –
Sonetos retalhados, mas sempre burilados,
Em fresca tela e formalmente acomodados
Como mandam as normas e os banais decretos.
Mas – o tempora, o mores! – Seus cuidados rectos
Dão à poetisa eternos dias amargurados
Por sentir seus Sonetos muito agrilhoados
Despidos de emoção e carentes de afectos…
A alma da artista, tão presa à rocha dura,
Tão dolente d´ angústia por não ter saída,
Iguala o seu tormento ao de Prometeu…
Que viu o seu Destino revelar-se agrura,
Ficando desterrado por toda a sua vida
E acorrentado à dura rocha sob o Céu.
Sonetos e sonetos, tão sós e tão discretos,
Não, ó poetisa, rasga esse trágico véu,
Pois há mais Poemas para lá dos teus Sonetos.
E se, Maria João, vires ao largo um deserto
Roga ao divino Apolo um outro fogaréu
Que te ilumine o estro para um rumo certo!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA