DO MAR E DE NÓS * Coração desfeito
No impulso de encontrar-me além do pátrio chão,
soltei-me da raiz e mergulhei no rio.
Senti-me a flutuar. Que assombro de evasão
sem peias encontrar o cais do desafio!
E na corrente fui! Inábil mas ousado,
ganhei, no meu arrojo, as artes marinheiras.
Além da barra, o céu no pélago espelhado
e as ondas desmaiando em seduções matreiras…
Tudo era novo, dum alvoroçado espanto!
Também eu era novo e o mundo me chamava!
E eu fui além, bebendo as lágrimas do pranto
daquela que sozinha aqui no cais deixava…
E fui… e trouxe o mundo inteiro no meu peito!
No peito onde hoje bate um coração desfeito…
José-Augusto de Carvalho
31 de Dezembro de 2018.
Alentejo * Portugal