Ainda vivo. (Em "O Céu e o Inferno").
A beleza da morte está na presença dos mortos.
Ainda vivos, e invisíveis, em nada estão ausentes.
Em fato certo, são tangentes e recém-libertos
Do corpo, o disfarce da alma, a prisão tenebrosa.
O vivo que confronta o morto (ou o oposto a isso) entrevista:
Vivo: Como é morrer e o que se dá na morte em si?
Morto: Extingue-se a vista e encontra, no vácuo, o ignoto;
Ainda vivo na ofuscante escuridão misteriosa.
Vivo: Depois do padecimento ainda em vida do corpo,
Qual a vossa tangível condição após a morte?
Morto: Ainda vivo e em situação bem lúcida e ditosa.
Vivo: Que efeito vos causa a ideia e o fato de, enterrado,
Jazer inerte seu corpo gélido e putrefeito?
Morto, ainda vivo: Gratidão à cela laboriosa.