Celofane
Para Ana Maria César
Na minha caixa, eu te esperei sorrindo,
o celofane intacto a separar.
E tu chegaste, alegre, a me pegar,
sorrindo e triste, um sorriso lindo.
O celofane, eu sei, nos separava
e não deixava a tua mão entrar
e me tomar nos braços. Teu olhar
fitava o meu olhar, e ali ficava.
O mundo da boneca é sempre triste
enquanto uma criança não fizer
um rasgo, com as mãos, no celofane.
E eu aqui envelheci, tu viste,
e os olhos de criança, hoje mulher,
já não me veem, não deixam que eu me engane.