Sentença
Quantas são em meu peito as insanidades
por desejar na alma o mundo que não é.
Por ter na vida tantas vontades,
que não as alcançando perde-se até a fé.
Quando as correntes prendem-me nas adversidades
afogando-me nas bravias ondas da maré;
sou o que sou, porém meu anseio não quer.
Queria não ser feito de mim: que terrível inconformidade!
Repelir-se _ como se fosse treva a nascença
Maldizer-se _ como se no espelho morasse o inimigo
impondo-se juízos de demasiado castigo.
É um mal-se-quer que repudia a própria presença
por vezes sou meu próprio carrasco, me persigo,
não amar-se: haverá mais amarga sentença?