SONETO DO EU AB OVO*

Ei-la cá, voz, que dentro de mim nada
como um peixe escolhendo um paraíso,
torno-me mais um destes - um Narciso,
que perde sua própria mão, tão dada.

E despe-se de mim em forte aviso,
de minha boca afora assim pasmada,
muito mais ao abismo que admirada,
mas já aos quarenta e quatro alça o sorriso!

Eis, pois, que descoberta agora voa,
aceita-me o menino e o nem tão novo,
partes muitas que formam tal pessoa.

Meu coração ainda só leiloa
essas condições minhas tão ab ovo*,
que bem no íntimo, peito este, povoa.


[*] Desde o princípio