Soneto de desesperança
A morte em si não é um contentamento.
Contudo, se abundam frustrações e dores,
se as horas são apenas circos de horrores,
melhor será ao desafortunado o passamento.
Nas manhãs nascentes já não há encantamento,
no íntimo florescem pensamentos espoliadores,
que de si mesmos são vis difamadores;
como a sarna faz definhar o cão sarnento.
Que futuro pode esperar um pobre esqueleto?
uma armação em ruínas, quem resgatará?
Quem esperança, num útero seco porá?
O que é viver, estando de tão morto repleto
num desassossego que nunca dormitará?
Pois da angústia sou filho predileto!