VIDA DE CÃO

Num dia claro, em que me achei mais cãochorrento,

Lembrando-me do meu enfadonho passado,

Quis ver de vez o meu destino renegado

Sem que do “mundo-cão” me torne ciumento.

Vim duma reles raça a que chamam de rafeiro,

E ouvindo que eu próprio não sou carne nem peixe

Disse cá para mim: antes que alguém se queixe

Não é tarde nem cedo, vou-me já pôr no andeiro.

Esta vida de cão – no meio da rebanhada –

Sem ter direito sequer a qualquer gulodice

Tenho a impressão que não passa de rafeirice,

Portanto, é hoje o dia certo, do tudo ou nada!

Vida de cão, à sombra dum triste chaparro,

Sempre tratado a açorda e a assobiadelas,

Não, patrão camarada, trate você delas,

Porque, cá eu, não nasci para ser escarro!

Tenciono aproveitar boleia para Lisboa,

Pra aquela coisa a que chamam de “parlamento”

Ao menos terei certo um farto vencimento

E onde tenho quem por mim sua voz entoa!

Frassino Machado

In ODIRONIAS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 20/10/2018
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