Ah! quem dera o dom de beijar estrelas
que o infinito no alto suspende
a me espreitar no patamar do alpendre
com afagos de prata nos musgos das telhas...

A noite segreda-me anelos ao vê-las
e um ímpeto olímpico que a chama acende;
meu ser fascinado no etéreo transcende
em sáficas rimas que me deixam tê-las.

Mas a musa eclusa, recusa insana
e a lira que fria assistia ufana,
despiu a fantasia do sonho de quimeras...

Puniu-me os deuses fatal ousadia,
ocultou as estrelas e raiou o dia,
fez de mim Pitágoras a ouvir esféras.

Soneto hendecassílabo
Tônicas nas segundas quintas oitavas e décimas primeiras sílabas.