Na companhia de Alexander van Bezerra fazendo os versos.

SONETO NA MESMA MIRA DE ADAMASTOR

Vejo-te, Adamastor*, como Bocage**:
cruel, mas que não deu conta de Gama***,
Já de Bartolomeu****, em sua trama,
derrubou sua nau por caro ultraje.

Nos mares não te encontro enquanto engaje
em meus versos e não mares, difama
teu jeito a expulsar rimas, reclama,
que em mim, transpondo o horror, desencoraje.

Navegante das naus e d'outros mares
nesta porção de estrofe o estro suspira,
mesmo que Adamastor rompa os altares

desta Fé que meu peito mais do que ira,
Comandante dos versos pelos ares,
ao cabo irei na tua infame mira.



(*) Gigante mítico representado pela natureza n' Os Lusíadas pelo Cabo das Tormentas;
(**) Poeta Lusitano Manuel Maria Barbosa du Bocage, que possui um soneto a Adamastor;
(***) Vasco da Gama, comandante da esquadra a descobrir o caminho às Índias, que passara pelo Cabo da Esperança (sustando o nome: das Tormentas);
(****) Bartolomeu Dias, comandante que descobriu o Cabo das Tormentas e numa segunda viagem, apoiando o comandante-mor Pedr'Álvares Cabral, naufragara sob Adamastor.