Terra Nua

Verão de um ano qualquer de minha infância.

No chão ardendo em brasa, trapo na mala, partia para o vazio da sorte.
Lá fora, a velocidade apagava minhas poucas lembranças.
No vidro, uma canção de vida, ouvia-se do assobiar do vento forte.
  
Entre dois montes, a estrada que me levava era escura, sem trato, apertada,
e na chegada, cinzentos dias de chuva, ruas sujas, mãos perigosas, caras fechadas,
e em todos os lados, gigantes calados me olhavam. Assustado, não entendia nada,
mas em mim não mudava, via-me sempre naquela criança, que na terra nua, nua  brincava.
 
De baladeira empunho, mata  seca adentro, de brincar de matar, brinquei.
Piavam as pombas, revoavam graúnas e pardais, silenciavam os que com pedra calei.
Em preces, retirei-me do sertão e do chão das mãos sofridas e maltratadas.
 
Abatido, fraco por eternas dificuldades, tios,tias e outros, chorei por todos - chorei de saudade.
Olhei para trás uma última vez, só para guardar a cor dos portais da minha cidade.
Guardei na memória histórias de vidas abandonadas, esquecidas e castigadas.
 
 
 

 
Mário De Oliveira RSA
Enviado por Mário De Oliveira RSA em 01/06/2018
Reeditado em 01/06/2018
Código do texto: T6352235
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