Ponto
A vida transmutou-se em rubra cor:
De doce gozar da alva existência,
Alvorou-se a rude sobrevivência.
Existe morta, destarte incolor.
Quero pôr-te termo, findar-te em verso,
Desejo de não a ver, a ferro ir-se:
Triste, infinitamente controverso,
Se fosse cinzas e ainda me enchesse.
Ó vida, por que tornaste tão agreste?
Deveras, foste potência sepultada
Em carne crua. Ínfima cova, deste.
Vida crua, por que de barro nos fizeste?
Quero voltar a ser verbo, triunfante
Erguer o punhal e me fazer em pó.