A teu Hino, Antero ateu!

Divina Comédia

Erguendo os braços para o céu distante

E apostrofando os deuses invisíveis,

Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,

A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante

Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,

Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,

N'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente

Do nada e do que ainda não existe,

Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»

Mas os deuses, com voz inda mais triste,

Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

(Antero de Quental, Ponta Delgada, Açores, Portugal - 1842-91

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 08/05/2018
Reeditado em 08/05/2018
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