Soneto da esperança na recuperação do verbo
Chega o tempo de não dizer nada,
Parece até que já se disse tudo.
Melhor é o conforto de estar mudo
E somente escutar, com alma indignada.
A nação em duas, tão apartadas,
Não se cobre em frases de veludo,
E ultrajes sempre dos mais graúdos
Aparecem nas notas propaladas.
Nos tempos de palavras tão ferinas,
Refugio-me nesta quietude,
Livrando-me, assim, da guilhotina
Do verbo, que, se hoje não aglutina,
Deixa esperança na mansuetude,
Que a grandeza da paz tanto sublima.