POR ENGANO
POR ENGANO
Cumprimentou-me sem saber quem era.
Acenava, sorrindo-me sem graça.
Há tempos não o via e n'uma praça
Calhou de reencontrá-lo: --"Besta-fera!..."
Com efeito, das brumas da quimera
Retorno balbuciando uma chalaça.
E, antes que da surpresa se refaça,
Pede-me um adjutório e fica à espera.
Recordo-me do amigo qu'ele fora
No tempo qu'eu o tinha como amigo
E da distância havida vida afora.
"Mas que cara de pau!" -- pensei comigo --
"Nem se lembra de mim". Digo-lhe, embora:
-- "Perdão, foi por engano." -- e fui embora.
Belo Horizonte - 25 03 2018