BURILADO

Como quando o mar lança escuma,

Tão suja, que nos põe tantos medos.

Como ondas que se elevam uma a uma,

Tão bravas, e nos revelam segredos.

É vento tempestuoso que sobre tudo ruma,

Tão violento, que nos tira todo o enredo.

Como areias depositadas em alta duna,

Tão soltas, que o vento leva em degredo...

Como caminho que leva a lugar nenhum,

Como sombra que se desfaz com a luz,

Como poça d’água desfeita em vapor.

Como palavras sórdidas sem valor algum

Em letras açacaladas que muito reluz,

Vi burilado no teu ser: desprovido de amor!