PENSAMENTOS VAGOS

À noite, a gelidez de um temporal me abraça,

fustiga o coração com a selvageria

de sopros infernais que nunca suporia

silvando sobre mim, fazendo tal pirraça.

Deixaste no lugar da luminosa graça

um rosto a confessar sua melancolia,

dois olhos a jorrar torrencial sangria,

o cheiro dos lençóis, cortante, que espedaça.

Preciso descobrir para o dilema um jeito:

não quero me apartar de ti nos meus lamentos

e não posso tirar disso nenhum proveito.

Feito uma flecha vens nos vagos pensamentos

vestida de ilusão... Mesmo sabendo, aceito

de novo permitir os vãos desvairamentos.