SONETOS DOS SETE PECADOS CAPITAIS

A PREGUIÇA

A primeira pedra poderá atirar

A pessoa que nunca comigo flertou

E deixou-se pelos meus encantos levar

Mesmo tendo consciência de quem sou

Com desânimo de se relacionar

De não ouvir o que os outros querem dizer

De sentir de pensar e de realizar

De deixar pra depois, não querer aprender

Lerdeza na vida, tédio de viver

Nunca será um herói ou um vencedor

Aquele que por mim se deixar convencer

Com lentidão no pensar e sem perceber

Sou pecado capital, lhe deixo assim

Não aproveita nem conquista, nunca vai ser

A INVEJA

Da história do homem eu faço parte

Desde o início da sua evolução

Em qualquer lugar sempre viverei com arte

Amiga do sofrimento e desilusão

Do ganho ou sucesso que qualquer outro obtém

Nem preciso que seja eu a desfrutar

Procuro reduzir sempre e com desdém

E minha mágoa eu consigo compensar

Meu trabalho, diz a crendice popular

É cobiçar, pôr olho gordo ou mal-olhado

Naquilo que o outro conseguiu conquistar

Eu sou o mal secreto, pecado capital

Muitos indivíduos comigo convivem

Mas poucos admitem. Isso é natural.

A SOBERBA

Se vive na certeza que é o máximo

Um símbolo de valor e importância

Nem admite ser comparar ao próximo

Esbanja orgulho, altivez e arrogância

Se você não admite a humildade

Venera a sua própria existência

Sem se conscientizar da realidade

Pensa que é centro e circunferência

Por mim, mais alguns vícios virão

Pois o pecado que a você domina

É, também, hipocrisia e ambição

De inocente sempre passo ilusão

Porém, da pessoa que contamino

Sou ainda seu algoz e perdição

A GULA

Assim como uma mulher linda de morrer

E de corpo escultural, sou bem desejada

Bela e harmoniosa pra você querer

E nunca pensar em me abandonar por nada

O que seus olhos vêem eu lhe faço querer

Muito mais do que necessita possuir

feito saco de vaidades você vai encher

E com voracidade mais vai consumir

Não admite que perdão você não merece

Para tudo que deseja, embora em excesso

E continua a obter o que apetece

Sou pecado capital, trabalho discreta

Transformado por impulso alheio à razão

Escravo do querer você será, na certa

A LUXÚRIA

Vivo para satisfazer uma paixão

Com a impulsividade desenfreada

para buscar a almejada satisfação

Que será, prazerosamente, conquistada

Procurando fugir do convencional

Desfruto do doce poder de dominar

Sou excêntrica, libertina e sensual

Pervertida é como eu sei de atuar

Desvirtuar o homem é o meu ofício

Paixão, amor, exacerbação de desejos

Sou a fuga do amor em compulsão, um vício

Pecado capital, falta de harmonia

Prazer que desordenadamente alucina

Sentimento intenso, mas pura fantasia

A IRA

Nascida de desgosto e desilusão

Permaneço no seu íntimo escondido

Posso causar sofrimento e aflição

Provocar a explosão do afeto contido

Eu sou o impulso que permite atacar

Paixão que incita agir contra alguém

Desejo descontrolado de se vingar

Ódio e raiva são forças que me mantém

Quem comigo vive muita intimidade

Deixa de controlar com rigor os impulsos

E sempre vai perder a racionalidade

Corrosiva e destrutiva emoção

Propulsora freqüente de más decisões

Firo sujeito e objeto da ação

A AVAREZA

O pecado sempre se opõe à virtude

Numa intricada trama inconsciente

Com habilidade a pessoa ilude

Agindo sempre de maneira diferente

Desordenado afã de ter e ter mais

Juntar incontrolavelmente para ser

E reter sem querer se desprender jamais

Como se para sempre pudesse viver

Quem comigo passa a vida a flertar

De pão-duro e de mesquinho é chamado

Pois nem consigo se atreve a gastar

Sofrendo a patologia do reter

Passará consumido por medos e culpas

Num poço de insegurança a viver