OLARIAS

OLARIAS

Do barro que sou feito, eu também faço:

Tijolos, telhas, vasos, santos, gentes...

Viver a amassar lama -- sãos ou doentes! --

Mesmo que o pão se veja sempre escasso.

Mas, da casa humilde ao grande paço,

Haverão-d'encontrar bem aparentes

Os sulcos de meus dedos! Entrementes,

Definham meus costados de cansaço...

Isto de ao abstrato dar mais concretude

Traz-me a incomensurável solitude

Com a qual lido desde que m'entendo.

Sem embargo, trabalho por obrar

Até que um dia enfim tenham lugar

Os lares que nos sonhos sigo vendo.

Betim - 31 03 2018